segunda-feira, 4 de julho de 2011

E o vento...

Aí! – Gritou ela. E não foi de prazer, foi de dor que tudo foi gerado. É, estava grávida.
Aí que dor! – Gritou ela mais alto. – Tira isso de mim! Agonizou ela. E vlac! A criança nasceu. Era menino. E a mãe morreu. O pai preocupado resolveu logo aventura-se pelo mundo. O menino não teve ninguém. Só uma avó. Uma avó do tamanho do mundo. Nela cabia tudo.
- Menino, que roupas são essa! Advertia a avó. A avó que comportava um grande coração.
O menino imaginava um dia ser tudo aquilo que ele jamais pensava ser naquele momento.
Em um belo dia, ao entrar na sala de aula, sentiu uma forte dor. Uma dor como a que sua mãe sentira! A barriga apertou e ele soltou. Sim, soltou em plena sala de aula. Como tudo no mundo não tem volta, ele resolveu reparar a situação. Desmaiou. Foi o que fez. Fingiu que desmaiou! Assim, ninguém poderia rir dele - pensou ele. Levaram-no desfalecido para casa. E náo foi que todos sentiram profundo compadecimento. E assim, já na tenra idade, já mostrava seus dotes artísticos. Teatro passou a ser sua paixão.
A TV era a sua cabeça. Imagina coisas e via outras. Adorava a "Noviça Rebelde" e "O Vento Levou". Anotava os detalhe de cada cena. A direção musical de "A Noviça" era impecável e a atuação do par romântico do "Vento Levou" era realmente de levar o Oscar.
Na verdade ele não ligava muito para o teatro, pois ele tinha vindo ao mundo para ser uma estrela de cinema. E o mundo o acolheu e ele viajou para longe, muito longe. O mundo era explendido. Andou de ônibus e escada rolante. Chegou a atingir o augê de sua criatividade ao chegar ao sétimo andar de elevador. E não parou por aí:
- Oi vovó, liga a TV que vou estar na novela!
E assim, o menino já quase homem estava chegando lá. Na avó já não cabia mais nada, estava extasiada. Extasiada de tanto valium.
- Alô, aquele braço que passou na novela era seu? – Perguntava a avó ao neto cada vez que telefonava.
E assim, ela ficava mais tranqüila, não pela fama do neto, mas pelas pequenas conquistas. Quanto menores eram, menos se auto-medicava.
- Melhor aparecer um braço do que o corpo inteiro! – Encasquetava a velha. A profissão de figurante até que era atrativa. Assim, era poupada de outras especulações na comunidade! Tinha pavor do povo local, imagina da massa nacional!
- Que roupas que eu estou vovó? Que mania! – Resmungava ele ao telefone.
E muitas oportunidades foram surgindo. E ele refez sua viagem. O mundo era o palco e o céu o limite. Nasceu realmente para brilhar... brilhar entre  lantejoulas e muito glitter. Purpurina era para os fracos.
Finalmente, dezenas de pessoas se reuniram para assisti-lo. E então ele entrou em cena. Entrou de cabeça erguida no salão nobre do CC. "CC" era o nome do Centro Comunitário do seu bairro.
- Aí meu santo! Que roupas são aquelas! – Exclamou a avó com uma forte dor na barriga. Não, ela não estava grávida!
Ele, já homem formado, apresentou-se ao grande público. Cursos tinha feito poucos. E não é que tinha mais talendo do que muitos artistas importados. Da admiração pela “Noviça Rebelde” cantou a música “The sound of music” e do clássico “O Vento Levou” usou o belíssimo vestido esmeralda de Vivien Leigh em sua exuberante atuação.
O impacto da sua figura quase provou uma vaia geral; que logo se converteu em aplausos. Foi uma comoção geral. Todos o aplaudiram freneticamente, ou melhor, ovacionaram-na em êxtase. O que era aquilo? Não havia explicação. Era simplesmente... estranho!
Já no hospital, a avó voltou a perguntar:
- Que roupas são essas menina! – E os dois sorriram demoradamente.
O talento realmente existia, mas em seu coração persistia um vazio, uma busca. Uma busca por um outro céu, um céu mais alto e azul.
Sua estrela brilhava forte, tão forte que o cegava e não o deixava ver quantas conquistas havia feito – mesmo estando de volta em casa.
Na verdade, o menino que imaginava um dia ser tudo aquilo que ele jamais pensava ser, já era sem saber naquele momento tudo o que ele queria ser.
E assim, ele brilhou. Brilhou como uma estrela cadente, tão intenso que durou o tempo de uma vida inteira.

terça-feira, 19 de abril de 2011

DESVANECIDA

Foi tanto amor! – Pensava ela. Amor por parte dela. Porque ela amou, ela cuidou, ela lavou, ela passou, ela secou, ela ligou, ela presenteou, ela pagou, ela deu... Ele só metia. Metia os pés pelas mãos. No dia ela quis chorar, mas ele secou até a última gota de cerveja do copo dela. Cada um foi para o seu lado sem olharem para trás. Mentira! Ela correu desesperada atrás dele. Ele estava com a bolsa dela! Já em casa, ela dormiu como a Cinderela.
- A Cinderela. Cin-de-re-la. – Soletrava ela.
Estava cansada de sonhar. Não faria mais nada dali para frente. Seria ótimo poder agora reler os clássicos como Alan Poe ou Willian Blake. Na sua cabeça ainda pairava uma dúvida. Uma grande dúvida sobre aquele trágico dia. Ela passou a relembrar os fatos em voz alta. Morava sozinha mesmo! Então, recapitulou  em voz alta, muito alta, para o mundo inteiro ouvir:
- Ele só me fodia, daí ele tentou me assaltar, eu corri e peguei minha bolsa. Bebi. Chorei. Chorei, Bebi. Sentei no parquinho. Bebi. Chorei. Será que comi? Cheguei cansada e dormi! Ah! Mas não pode ser... Tem algo errado! Não consigo me lembrar! – E de um salto, ela acabou de vez com a sua dúvida: - Foi a Bela Adormecida que dormiu e não a Cinderela!
Cinderela era apenas uma abóbora para ela. E assim, o destino dela seguiu... Já em casa, ela dormiu feito a Bela Adormecida. De bela não tinha nada. O espelho deixou de presente para a madrasta. Ela lembrou de súbito que não tinha bebido e nem chorado. O parquinho era a carrocinha do cachorro-quente, onde comeu horrores a noite toda. Quando dormiu não foi de cansada, mas de empanzinada. Sobre o “fazer nada dali para frente” é a única  verdade. E os clássicos? Mentira! Ficou mesmo foi com os clássicos da Disney. Ela a-do-ra-va a Bela Adormecida, mas chorava só de pensar no príncipe. Espera! Se a história for bem contada fica assim: Ela odiava a Bela Adormecida e sentia vontade de comer só de pensar no princípe ladrão de bolsas. Sua bolsa era a sua casa. O corpo dela realmente não fazia nada, mas os pensamentos a inquietavam. Já no sétimo dia ela sentiu um cheiro horrível na sua bolsa. Estava de férias. Lembrou que precisava retirar o lixo. Sua casa era minúscula. Só cabia ela, a bolsa e os clássicos da Disney. Se arrumasse mais coisas teria que se mudar. O dinheiro do aluguel era con-ta-di-nho. Levava todo santo mês para o evangélico dono da imobiliária. Não, ela nunca pensou em ser crente! Ela pensava às vezes em ter um quintal e uma garagem. Vivia assim, apertada.
- Fico puta! Como o cara me constrói um puxadinho pra eu colocar minha maquina de lavar roupas e estender minhas calcinhas e depois enfia o carro dele? – indagava a moça já nem tão moça assim.
Tinha dias que ela não tinha como sair de casa porque o carro era um estorvo na sua porta.
- Escuta aqui, onde está o meu espaço no contrato dessa joça? – Gritou ela, dessa vez mentalmente.
Pensou varias vezes em furar o pneu com muito ódio, mas no fundo ela tinha medo de ir para o inferno.
Era um terror viver numa casa que não tinha entrada, onde a janela deveria ficar fechada porque dava direto para a estrada. Tinha pavor de ser vista deitada de calcinha sobre a cama desarrumada. Se houve a promessa de que a cidade cresceria foi mentira.
- As salas comerciais viraram casebres, magníficas obras arquitetônicas criadas para pessoas adaptáveis como eu – divagava ela.
Finalmente moveu o corpo para retirar o lixo. Mas como tiraria com o carro do vizinho enfiando na cara dela? Não teve o que fazer. Ficou ali de calcinha sobre a cama desarrumada com a janela fechada o resto do dia; envolta naquele cheiro insuportável. Só as lembranças ainda habitavam aquela casa.
- Foi tanto amor! – Delirava ela.
No fundo estava feliz, por que onde caberia ele na sua casa? O mau cheiro pelo menos não ocupava espaço na sua vida. Então, abriu um dos clássicos e começou a ler em voz alta, muito alta, mas muito alta mesmo, para todo mundo ouvir...
- "ERA UMA VEZ UMA PORCA CHAMADA CINDERELA... OU SERIA CHAPEUZINHO VERMELHO?"

quinta-feira, 24 de março de 2011

OS SEGREDOS DE MONTMAR

Ela nasceu. Ele foi projetado. Ela nunca namorou. Ele... não importa! Quando começou a namorar foi como se sua vida se transformasse na primavera. Ele era educado e viril. Ela sonhadora e delgada. Namoravam e projetavam a casa dos sonhos, com jardim e lareira. Casaram. Tão rápido quanto se lê “fim”. Tiveram dois filhos. Mais rápido ainda. O pequeno detalhe nessa transa é que ele era desquitado e trouxe de brinde os dois lindos filhos. Todos se mudaram para um belo chalé na vila Montmar ao pé da montanha. O céu era azul e o vale verde e florido. Era tão florido, mas tão florido, que não se via um palmo de terra. Não, para onde foram não havia mar. Ele se chamava Doaks e ela Lili. Lúcio e Dorinha eram as crianças. Tudo era tão perfeito que parecia um sonho. Então, em um belo dia ela despertou de súbito com os urubus rodeando a casa. 
- Acorda seu cavalo, atrasado outra vez?
- Cala boca sua porca, me deixa dormir! – Resmungou ele.
E ao meio dia em ponto as crianças chegaram da escola.
- Lúcifer, tira a mão do fogo! – Alertou ela o menino que antes era o pequeno Lúcio. Apenas Dorinha continuava com a mesma carinha de anjo.
- Queridinha, pirulito na hora do almoço?
- Cala essa boca sua vaca! – Respondeu a linda Dorinha para a madrasta.
Lili agora era Elisionor e Doakstein. Os dias eram de chuva e trovões. O local agora era de risco, pois havia perigo de deslizamento. Montmar na verdade era à beira de um sinuoso rio. As flores secaram, revelando o chão que não era chão, mas um enorme cemitério abandonado e escuro. O chalé parecera encolher com tanta umidade. Mesmo casado ele ainda era desquitado. Mesmo casada ela ainda parecia nunca ter namorado. Na verdade o pequeno detalhe é que eles não transavam. Filhos mesmo não tiveram. O registro de casamento virou guardanapo e as fotos de namoro lenha na lareira. Ele era bruto e sujo. Ela depressiva e recheada. Ele mecânico. Ela cabeleireira. Quando pensaram em separação a vida já era um inferno. Ela nunca deveria ter conhecido alguém. Ele? Realmente não interessa! 
- Me diz meu Deus! Pra que é que nasce a pessoa? 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Restos

Ela era garçonete. Ela era mãe.
Ela foi menina. Ela foi só esperança.
Ela já serviu para outro tipo de coisa.
Ela já foi outra pessoa.
E foi cozinhando, anotando pedidos e servindo outros tipos de pessoas que ela sentia seu estômago doer. E olha que não era uma dor qualquer. Era um dor que vinha como uma coceirinha que começava a esquentar e parava. E começava mais intensa e incômoda e parava.E começava e parava. E começava e parava, até ela ficar extremamente irritada.
- Deve ser úlcera, gastrite... come alguma coisinha menina! Dizia o patrão cada vez que a moça se queixava.
Ela, a garçonete, não pensava em outra coisa. Passava a mão em uma migalha de pão e enfiava na boca. Era um alívio! Minutos depois a dor voltava.
- Come alguma coisa mulher! Dizia o patrão.
Ela, que era mãe, sabia que com a fome não se brincava. Então, passava a mão em uma ou duas batatinhas fritas, enfiava na boca e comia. Mas não estava com fome. Era um alívio... um meio alívio. E a dor começava outra vez e ela comia. E não estava com fome. E comia. E vinha a dor e o patrão dizia:
- Come minha filha, come!
Ela, que já tinha servido para outro tipo de coisa, comia e comia e comia. E não é que a bendita dor não passava!
Ela, que já foi outra pessoa, se olhava no espelho e o espelho olhava para ela. E o que via? Via que estava gorda, mas gorda, muito gorda. Estava nutrida, rechonchuda, entupida, untuosa... Na verdade estava cheia... muito cheia.
Ela, que foi só esperança, ainda sentia bem lá no fundo, bem além da dor, um vazio. Um vazio inexplicável na alma.
E a dor? A dor continuava a ser sentida do mesmo jeito.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Metas...2011

Todo mundo faz uma listinha das coisas que deseja realizar no começo do ano, faz projetos, promessas e por aí vai... neah?! Pois é, eu não sou diferente (hehehe), então resolvi desabafar com vocês só algumas vontades para #2011; só algumas, porque eu tenho muitas...


Criar vergonha na cara, deixar de ser "cara de pau" (hahaha), esquecer as coisas do passado, ser uma pessoa mais organizada e quem sabe até menos sensata.





Deixar essa minha vida sedentária e voltar a frequentar academia.


Viajarisso já esta  programado. Esse ano eu pretendo ir não só pro Rock in Rio, como pretendo voltar em búzios e fazer outras pequenas cidades...  hahaha.


Ter mais tempo para as Amigas, amo muito passar o tempo a com as girls mas confesso que quase não fiz isso em 2010 e também fui uma má amiga. Tô sentindo falta de vocêis amores!!


Estudar mais e ler mais livros... Eu me faço essa promessa desde que me conheço por gente (hehehe). Adoro ler mas confesso que eu assisti mais TV do que li bons livros em 2010. 

Guardar Dim Dim, outra coisa dificil na minha vida hahaha. Mas vou tentar economizar mais, gastar menos e investir mais. Preciso de habilitação gentemmmmm, num guento mais depender do carro papis e da mamis hehehe.






domingo, 2 de janeiro de 2011

Como morrer?

Ela foi ao hospital com a amiga. Foi só para acompanhar. Ela realmente era uma grande amiga. Morria de medo de hospital. Ambas. A amiga era casada. Parecia feliz. Tinha até filhos. Filhos de sangue. Quase ninguém acreditava, mas eram dela sim. A vida da amiga era uma vida comum, simples... sinceramente, era uma vida bem medíocre mesmo. A própria amiga confessou-lhe isso várias vezes. Mesmo com tanto para se fazer e pensar ainda havia espaço para a solidão. Pelo menos era isso que a amiga achava que sentia quando o coração apertava e o ar lhe faltava. No meio de tantas panelas, temperos, roupas, cômodos, casas, ruas, carros, prédios, lojas.. tudo tudo parecia tão sem cor... Certa vez a amiga e ela, sim, ambas, foram até ao oftalmologista. Compraram óculos da moda e tudo, mas não puderam usar por muito tempo, pois se sentiam tontas, tinham até vertigem. Mesmo através das grossas lentes tudo ainda continuava sem cor. Ela não disse nada sobre isso para a amiga. Nem a amiga disse nada para ela. Não era preciso dizer. Pois mesmo em silêncio elas sabiam.
E foi lá no hospital que as coisas começaram a ser sentidas por um outro ponte de vista. A amiga deitada na maca sentiu seu fígado inchar, inchar, inchar... E foi numa fisgada profunda, que lhe tocou a alma, que ela soltou:
- Aí doutor, me dá uma dica para eu morrer logo! Gritou ela com lágrimas nos olhos. A frase ecoou pelos corredores do hospital. Silêncio total. Todos entenderam o suplício!
A dor continuou muito forte e persistiu por toda à noite. E houve o amanhecer, o breve amanhecer. Como jamais visto antes. E olha que estava sem óculos; ambas. Cansada e já sem fôlego, disse a amiga para ela:
- Diz lá em casa que eu os amo... Em mim só há espaço... Deixei o carnê da prestação da máquina de lavar debaixo da santinha no altar... não tenho mais tempo! Acho que eu vou... aí! (...) E nos primeiros raios do sol a amiga melhorou completamente como que por um milagre. Levantou-se e até andou. Ela achou que era apenas uma melhora, daquelas que dizem que dá no paciente antes de morrer definitivamente. Sim, antes de morrer definitivamente. Mas a melhora persistiu até o meio dia. Foi liberada e tudo mais, mas antes fez questão de filar o rango esverdeado do hospital. De barriga cheia e sem dor no fígado voltou para casa, ambas.
A amiga disse para ela que viu naquelas horas de terror a lança pontiaguda da morte no seu fígado. E foi assim que a amiga encheu-se de cor, perfume e brilho. A partir daí Ela não reconheceu mais a amiga e não conversaram mais como antes. E o silêncio? Agora era apenas silêncio. Apenas para uma. E Ela? Ela espera terrivelmente por uma dica para morrer.