quinta-feira, 24 de março de 2011

OS SEGREDOS DE MONTMAR

Ela nasceu. Ele foi projetado. Ela nunca namorou. Ele... não importa! Quando começou a namorar foi como se sua vida se transformasse na primavera. Ele era educado e viril. Ela sonhadora e delgada. Namoravam e projetavam a casa dos sonhos, com jardim e lareira. Casaram. Tão rápido quanto se lê “fim”. Tiveram dois filhos. Mais rápido ainda. O pequeno detalhe nessa transa é que ele era desquitado e trouxe de brinde os dois lindos filhos. Todos se mudaram para um belo chalé na vila Montmar ao pé da montanha. O céu era azul e o vale verde e florido. Era tão florido, mas tão florido, que não se via um palmo de terra. Não, para onde foram não havia mar. Ele se chamava Doaks e ela Lili. Lúcio e Dorinha eram as crianças. Tudo era tão perfeito que parecia um sonho. Então, em um belo dia ela despertou de súbito com os urubus rodeando a casa. 
- Acorda seu cavalo, atrasado outra vez?
- Cala boca sua porca, me deixa dormir! – Resmungou ele.
E ao meio dia em ponto as crianças chegaram da escola.
- Lúcifer, tira a mão do fogo! – Alertou ela o menino que antes era o pequeno Lúcio. Apenas Dorinha continuava com a mesma carinha de anjo.
- Queridinha, pirulito na hora do almoço?
- Cala essa boca sua vaca! – Respondeu a linda Dorinha para a madrasta.
Lili agora era Elisionor e Doakstein. Os dias eram de chuva e trovões. O local agora era de risco, pois havia perigo de deslizamento. Montmar na verdade era à beira de um sinuoso rio. As flores secaram, revelando o chão que não era chão, mas um enorme cemitério abandonado e escuro. O chalé parecera encolher com tanta umidade. Mesmo casado ele ainda era desquitado. Mesmo casada ela ainda parecia nunca ter namorado. Na verdade o pequeno detalhe é que eles não transavam. Filhos mesmo não tiveram. O registro de casamento virou guardanapo e as fotos de namoro lenha na lareira. Ele era bruto e sujo. Ela depressiva e recheada. Ele mecânico. Ela cabeleireira. Quando pensaram em separação a vida já era um inferno. Ela nunca deveria ter conhecido alguém. Ele? Realmente não interessa! 
- Me diz meu Deus! Pra que é que nasce a pessoa?